Virtualidade, Verdade & Você Aí |
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30.1.06 BUSCA DE LUZES EDITORIAIS. ![]() ( Ambiente tomado por incenso de tulipa. Todos sentados em lótus no chão. O CORO sobre uma almofada oriental. Uma luz avermelhada toma o ambiente do galpão. Com o tempo, os outros vão saindo de alfa e acendendo cigarros, se agarrando, rolando pela terra, brincam com a câmera digital, perdem documentos dos bolsos, o próprio CORO belisca as nádegas dELA e ri. O aparentemente ordeiro sempre esconde potencialmente o caos. E isso é filosofia. O problema é ter que revisar o texto, sempre escapa algo. Da sapiência. ) CORO : Muito bem, hoje começa nossa busca por uma editora. Se até Artaud, maluquinho, foi publicado em mil línguas e assim encenado, Plínio Marcos hoje é gênio e toma banho no Paraíso, então vamos nos dar bem também. ELE : Tenho uns contatos. Gente de jornal. Já me meti em política. Contra um Partido, se eu pedir apoio para o adversário, a gente poderia... ELA : Metido. Adora ficar vendo o que faço no computador. Se tenho outros. Claro que tenho. Se faz de potente, de penetrante, de infiltrado. Me irrita. ELE : Eu já publiquei três livros. Muito bons. Ficar rico com literatura ? Não isso é difícil, só literatura comercial dá dinheiro. As editoras falam na cara dura : "Nós somos populares !". ELA (risos, afogamentos) : Você é ótimo ! Te amo. Beijo no coração ! CORO : E se usarmos a propagranda de que ELE está com aquela doença grave ? Não é mentira. E isso venderia. "ELE, mesmo debilitado se esforça em nome da renovação da arte, da crítica ao conceito de realidade, ao louvor e elegia da virtualidade, uma última obra, de um último homem ! ELA : Também quero uma doença séria. Vírus. Não vou atualizar o anti. ( ELE toma um gole de suco de clorofila e tosse ) ELA : Ontem saímos no jornal. Precisamos mostrar isso pras editoras. Eu mostrei pras meninas. No dia do meu aniversário, vou borbulhar na coluna social. CORO : Se alguma editora ( levantando do almofadão Kama Sutra e caminhando, coçando a barbicha e procurando caroço indicativo de câncer de mama ) se interessar, a obra termina aqui. Ou começa. Sempre me confundo. O que me assusta é lá no fim, digo, no começo, lá embaixo, aquele monte de letras sem sentido. Aquilo é arriscado demais. Eu preciso dizer que há um sentido. Vou editar. E explicar cada loucura desses espetáculos. Apagar tudo que vivemos já não é possível. ELE : Você é muito esperto. Depois o psicanalista sou eu. Ai meu peito, tenham dó, editoras ! ( cai no chão e começa a ficar pálido ) CORO : Tudo pode acabar agora. Nós. A alegria da aceitação, da vendagem, da noite de lançamento, o que nos faria definitivamente existir é o que acabaria com nossa existência... ELA : Adoro homem cabeça. Mulher também. Até ELE. Veja como finge bem uma síncope. Editoras : Nós somos cabeça e faremos o leitor e o público achar que eles também são, percebe... CORO : Gerald Thomas... ELE ( engolindo cápsulas de uma caixinha amarrotada com tarja preta ) : Zé Celso... ELA : E quem nunca sonhou que sonhar pode se tornar realidade ? Isso aqui é um livro esotérico, percebem ? CORO : Vamos beber algo em algum lugar bacana. Alguém ainda tem o endereço daquele americar bar ? ELA : Você precisa contar que conhecemos autores de vanguarda, que a semana de 22 foi linda, e que agora acontece na tela, na virtualidade, na verdade e em você aí. Mandei bem. Yes ! ( soco no ar cibernético vázio ). ELE ( melhorando rapidamente ) : Eu tenho o endereço do lugar...aqui....em algum bolso, caramba. CORO : Foto chamativa. Agora. Publique. Poste.
29.1.06 FOFOCAS DE BASTIDORES. ![]() ( Domigo, 09:55, chuva, galpão com geoteiras. Ele, Ela e Coro falam sobre si, e olham ao redor e observam na manchete do jornal : Domingo, 09:55, chuva...) Ele : Você viu, hoje eu apareci no jornal. Ela : Que jornal ? Ele : Correio Popular de Campinas. Ela : Se você apareceu, eu idem. CORO : Quem vai receber os convivas ? Eu ? Estou ocupado. Vocês viram, hoje eu apareci no jornal. Ele : Mulheres vão me desejar. Ela : Homens vão te desejar também. Mas você é casado. Ele : Quem disse ? Ela : O nosso texto. CORO : O desejo apareceu no jornal hoje. Ele : Vão parar de me desprezar. Preciso de um e-mail novo. Nick pra MSN. Página no ORKUT. Ela : Lá estava eu, no palco, na capa, no sucesso ! Ele : O cachê. Quero mais pixels pra definição da minha inteligência. Ela : Hoje quero almoçar fora. Lugar de gente-fina ! CORO : A comunicabilidade apareceu no jornal hoje.
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![]() bem-vindos Isso não é um blog. Acredite. Tudo está interligado aqui dentro. Se você der um pouco do seu tempo, eu te darei muito mais. passado
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